Proteção anticorrosiva


O objetivo deste trabalho é mostrar que o projeto e execução de tratamento anticorrosivo deve ser encarado como uma obra dentro de outra obra e colocado como um item prioritário e não como um dos fatores de seu atraso ou encarecimento. Uma pintura bem projetada e com qualidade controlada não é despesa, mas sim um investimento, pois protege o inventário e diminui os custos de manutenção. Este trabalho divide o programa de manutenção anticorrosiva em duas etapas distintas, a saber: projeto e obra e controle de qualidade.
Embora as indústrias de produtos de proteção anticorrosiva via película de tinta produzam materiais de performance comprovada, no Brasil ainda não temos uma gama que atenda a todos os casos e/ou situações.
Associado a este fator, esbarramos num preconceito ou desconhecimento muito grande no aspecto de importância que é dada a este segmento — proteção anticorrosiva — bem como na carência de treinamento de mão-de-obra direta e indireta envolvida nesta atividade, gerando, às vezes, obras com qualidade abaixo do nível desejado e, ao longo do tempo, com risco de comprometimento nas estruturas.

Projeto (levantamento de dados e especificações)
Esta é uma fase de importância fundamental. O profissional envolvido nesta atividade deverá elaborar um data sheet com alguns itens denominados macros e micros.
Nos itens macros, deverão obter e constar informações quanto à localização da obra (área marítima, urbana, rural, industrial etc), se existem respingos ácidos ou se há ocorrência de chuvas ácidas na região, qual é o nível de ataque mecânico a que esta superfície vai estar exposta, verificar se há ataques químicos com vapores, pós ou líquidos.

Nos itens micros deverão obter e constar informações sobre prováveis alterações de layout, de maneira que o projeto também seja de layout anticorrosivo. Um exemplo disso é evitar vigas e cantos que permitam o empoçamento de água e outros agentes corrosivos, arredondando estas áreas. Também deverá ser obtido o quantitativo a ser trabalhado para que se determine a maneira do tratamento.
De posse destas informações, podemos concluir se o grau de corrosão que vai estar atuando por esta superfície será não, pouco ou fortemente corrosivo.
Com esta conclusão, obteremos o tipo de proteção a ser dado em função do uso final da obra (industrial ou predial — nestes casos a decisão será quanto ao tipo de preparação de superfície e material de primer e acabamento a ser empregado). Teremos que considerar dezenas de variáveis para se chegar a uma única especificação.

Observamos que os elementos associados à obra, como concreto, tubulações etc., também deverão ter o mesmo procedimento, pois cada caso é um caso.
Escolhidos os tipos de especificações, deveremos utilizar normas que regem esta especialidade, como SSPC (Steel Structures Painting Council), Nace (National Association of Corrosion Engineering), SIS (Swedish Institute of Standards) e normas da Petrobrás quanto à preparação de superfícies, entraremos no item Obra e controle de qualidade. Para esta etapa de trabalho, existe projeto sistemático que reúne todas as informações e variáveis necessárias à elaboração de um programa de proteção anticorrosiva.
Artigo técnico
Obra e controle de qualidade
Por questões de natureza técnica e comercial, é importante que as peças recebam apenas preparação de superfície e aplicação do primer no canteiro, pois os custos são inferiores pela facilidade dos serviços e pela importância vital destas etapas dos serviços.
As camadas de reposição por ataques mecânicos (do primer), intermediário e acabamentos deverão ser aplicadas no local, já montadas. Isso evita vários inconvenientes que acarretam em custos adicionais aos trabalhos já executados (caso o acabamento fosse executado no canteiro). O custo da repintura por ataque mecânico seria praticamente dobrado, devido ao seu custo final com material e mão-de-obra (vide Figura 1).
Como atividades básicas para uma obra de proteção anticorrosiva mostramos um fluxograma com uma cadeia de itens seguidos com suas respectivas maneiras de se controlar a qualidade (Figura 2).

Observações finais
1 — Não está sendo considerado neste trabalho todo o conjunto de documentação técnica de elaboração do projeto e comercial junto aos fornecedores de materiais e mão-de-obra, por se tratar de parte administrativa.
2 — Não está sendo considerado, também, o planejamento da obra, visto que o mesmo é uma sub-rede ou subatividade de um empreendimento, cabendo ao gerente do projeto sua elaboração e considerações.
3 — Não está sendo considerada a metodologia de execução item a item, devido a sua grande extensão.
4 — Deixamos de citar o item Cor porque ele abrange uma gama muito grande de informações que fazem parte do item Projeto. Porém, a sua importância é fundamental no contexto global do empreendimento, devendo ser objeto de estudo em separado, observando-se as influências do projeto no meio ambiente, de maneira a harmonizar obra/natureza.

Segurança no trabalho
Deverá ser responsabilidade do gerente ou coordenador do projeto elaborar o programa de prevenção de acidentes de trabalho e proteção ao meio ambiente. Na segurança do trabalho deverá deverá ser elaborada norma de segurança para empreiteiros, contendo:

a) instruções de segurança;

b) check list diário com as atividades executadas e as precauções a serem tomadas com relação à exposição de riscos, uso de equipamentos e ferramentas e manuseio dos produtos químicos, bem como demonstrar os meios de prevenção via EPI`s.

Proteção ao meio ambiente
Os resíduos de tinta e derivados utilizados em tratamentos anticorrosivos, bem como latas e outros resíduos sólidos, são classificados pela NBR 10.004 – Resíduos Sólidos como produtos tóxicos perigosos e não inertes, devendo os mesmos terem um estudo para a sua disposição final, conforme legislação dos órgãos competentes (Cetesb, Feema etc).

Conclusão
Para se obter uma obra de pintura industrial com qualidade assegurada, necessita-se de um projeto de engenharia completo e que a obra tenha o controle de qualidade bem executado. Desta maneira, os custos de investimentos iniciais serão diluídos ao longo da vida da obra pelo fato de não necessitar custos de manutenção.

Fonte: Revista Petro & Gás

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